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Livros Humanos

Em plena comemoração do Cinquentenário do 25 de Abril e integrando o Projeto Cultural de Agrupamento, a Biblioteca Escolar da ESAG levou a cabo mais duas sessões de “Livros Humanos”. Os “livros” foram especiais, Maria Teresinha Tavares e João Andrade da Silva, verdadeiros veículos de sabedoria e conhecimento, acumulados na linha da frente da luta por um mundo mais justo onde prevaleça a igualdade e equidade.

No dia 24, esteve numa conversa muito próxima com a turma do 9º B Teresinha Tavares, uma senhora de 91 anos que pertence ao Graal, um Movimento Internacional que presta serviço social e cultural. Integra mulheres de todos os continentes, etnias, culturas e idades e promove a participação cívica na sociedade e uma vida com sentido e qualidade para todos. Foi uma profícua e excelente aula de cidadania de alguém que dedicou e dedica a sua vida a servir os outros no mundo, em situações de crise e conflitos e foi deixando uma pegada solidária de serviço humanitário, que deu sentido à sua existência e que sensibiliza quem a ouve. A figura meiga e sedutora, um brilhante discurso descontraído e entusiasmado e um perfil de coragem, altruísmo e abnegação evidentes prenderam os presentes à narrativa de histórias reais, vividas antes e depois do 25 de Abril, com destaque para as ações de alfabetização, revelando-se a Teresinha um testemunho vivo de quem intervém na sociedade e faz a História. É a “Peregrina de Mil Sonhos”- título do livro autobiográfico- cujos sonhos e crenças a levaram a percorrer países para onde era chamada, auxiliando as populações que precisavam de amor, mas muito mais de quem as respeitasse e ensinasse a pensar e a alterar a sua vida.

No dia 26, esteve junto dos alunos do 9ªD e 9ªE o Coronel Andrade da Silva, um dos Capitães de Abril e atual Presidente da Associação Salgueiro Maia. “ Eu estive lá!”, fez sobressair  o orgulho do convidado, sentido na sua conversa com os nossos jovens , no discurso inflamado e cativante de narração de factos históricos reais e de apelo à intervenção de cada cidadão na luta pela liberdade e justiça. Foi um dos militares que quis integrar o Movimento das Forças Armadas, após ter sido destacado para a Guerra Colonial em Angola e ter “logo percebido que era uma guerra injusta e inútil”. Com o seu testemunho na primeira pessoa, tornou mais vivo e real cada momento daquela “madrugada mais fria” da sua vida, em que, às três da manhã do dia 25 de 1974, imbuído do sonho de acabar com a Ditadura e da coragem que suplantava o medo, inerente a qualquer ser humano, o então Tenente da Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas dirigiu a coluna militar em direção a Lisboa, cuja missão era montar uma estrutura defensiva junto ao Cristo Rei, de controlo do estuário. Foi onde estiveram três dias, em que o apoio do povo nunca faltou e a alegria foi crescendo à medida que a certeza de que tudo tinha corrido bem ia chegando. “Foi um movimento de jovens”, que sentiram na pele e na alma os horrores da Guerra Colonial e, num compromisso assumido e levado à consequência da própria morte, quiseram mudar o rumo da História. Contudo, o Coronel foi deixando bem claro que as conquistas de Abril não estão garantidas e que os nossos jovens, os filhos da geração de um país democrático, se não quiserem levar a “vida a dormir”, devem intervir na sociedade e lutar pelos seus sonhos e pelo país em que querem viver. Sendo orgulhosamente um dos Capitães de Abril, o nosso convidado deixou transparecer a união de cerca de 5000 militares que escreveram a História, muito particularmente a heroicidade de Salgueiro Maia, marcante pelas características de comandante e nobreza de caráter, cuja memória se pretende notabilizar na associação a que preside (ASM), com sede em Santarém.

Em jeito de conclusão, foram momentos participados e vivos que, cremos, marcarão os nossos alunos com conhecimentos indeléveis sobre um período histórico que não viveram, mas pelo qual podem comprometer-se na prática de valores como a Liberdade e a Justiça. É a semente destes “Livros Humanos” que foram passando pela Biblioteca Escolar, que viveram o antes e o depois da Revolução e são um exemplo de Cidadania ativa.

Prof. Teresa Pereira